Herdar a Terra: A saúde de uma civilização

Herdar a Terra: A Saúde de uma Civilização

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Ao enunciar suas Beatitudes no Monte Tabor, Jesus diz “Bem-aventurados os mansos porque eles herdarão a terra.” Ora, sem a chave adequada, essa frase não faz muito sentido, pois a ideia de o Céu recompensar a mansidão com posses terrenas – com o planeta inteiro! – não se insere nos ensinamentos de Jesus… Mas eis que numa conferência proferida em 1968, o filósofo, pedagogo e Mestre espiritual Omraam Mikhaël Aïvanhov revela que nos textos sagrados a palavra “terra” simboliza a nossa parte esférica, o crânio, o cérebro. Omraam esclarece inclusive que quando agimos com mansidão, bondade e ternura, os elétrons de nosso cérebro adquirem o teor vibratório adequado para que a nossa alma venha nos habitar plenamente e possamos trabalhar conscientemente com o divino no plano terrestre.

No evangelho segundo Mateus Jesus declara que “Dois mandamentos resumem toda a lei e os profetas:Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito,’ este é o maior e o primeiro mandamento, e o segundo, semelhante a este, ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo.’” Belíssimos mandamentos, mas o segundo é aparentemente aberrante, pois desde os tempos mais remotos, admiramos, cultuamos, celebramos e erguemos monumentos a seres poderosos, sim, mas que para atingir seus objetivos feriram, mataram, escravizaram, incapazes de manifestar esse princípio básico de que somos o outro. Jesus sabia que ao agredir nosso semelhante agredimos a nós próprios, estando inscrito na nossa essência que somos verdadeiramente irmãos, companheiros nessa aventura terrestre; ser manso e benevolente é agir segundo como fomos criados, faz parte da nossa natureza primeira. 

Sentir empatia é saber no nosso âmago que somos o outro; ela é uma função natural do nosso psiquismo saudável, assim como a compassividade e a amorosidade. E é para mim uma alegria saber que, recentemente, a neurofisiologia chegou finalmente à conclusão de que no ser humano, um cérebro bem formado vem programado para a conexão empática com o outro – seja este mineral, vegetal, animal ou humano.

Apoiando-se nas pesquisas do neurocientista italiano Giacomo Rizzolatti que descobriu os neurônios espelho – instrumentos físicos do cérebro para a empatia – o psiquiatra americano Daniel Stern comenta que estes neurônios “foram construídos para serem captados pelos sistemas nervosos de outras pessoas, para que possamos vivenciá-los como se estivéssemos vivendo aquilo pessoalmente. Em tais momentos, ressoamos com a experiência alheia e os outros, com a nossa.” A inteligência social de um indivíduo depende intrinsecamente de seus neurônios espelho, diretamente responsáveis por “saber o que o outro está sentindo.” E fundamental para a inteligência social é o neocortex, como o denota brilhantemente o jornalista cientifico Daniel Goleman em seu livro “A Inteligência Social, O Poder Oculto Das Relações Humanas.

O ser humano, diria Jesus, precisa estar equipado dos melhores níveis cognitivos e das capacidades psicossociais decorrentes de uma hígida formação de estruturas neuronais específicas – principalmente os lobos préfrontais e o corpus caloso… Impressionante como as descobertas da neurociência explicitam os ensinamentos dos Mestres e Iniciados de todos os tempos! 

Temos como trazer conscientemente saúde e harmonia no âmbito mais profundo do ser, na intrínseca formação do órgão regente das interações em todos os níveis da vida – o cérebro. É possível ofertar ao nosso planeta uma civilização na qual a maioria de seus membros tenha o cérebro histologicamente bem formado e cuja alma possa usufruir do suporte de uma neurofisiologia saudável, propícia à bondade, à força de caráter e à empatia – pedra angular de uma sociedade fraterna, nobre e que sabe usar seus recursos científicos, artísticos e espirituais para o bem comum.  Este caminho ainda não foi percorrido por uma nação, e menos ainda por uma civilização planetária; mas graças às descobertas da ciência, compreendendo e pondo em prática os ensinamentos dos grandes Mestres e Iniciados, podemos empreender coletivamente tal aventura sagrada.  

E como se forma um bom cérebro? 

Claro, é imperativo a gestante ter uma boa alimentação. Alimentos saudáveis, vivos, fornecem à mãe e ao neném o aporte físico para a formação harmoniosa do cérebro. Escolhendo alimentos solares como frutas, folhas, cereais, sementes, leguminosas e legumes – em vez de produtos industrializados desprovidos de vitalidade – a mãe vai tecendo a saúde do neném em comunhão com a Mãe Terra, face receptiva do Divino. Ela é parceira da Vida. O ideal é que esse cuidado já exista antes da concepção. 

“Cada mulher é uma expressão e uma representante do aspecto feminino da divindade. A criança que ela traz ao mundo é seu universo microcósmico.”

Geoffrey Hodson

Já no momento da concepção, a distribuição dos receptores na superfície do óvulo para os fatores bioquímicos de crescimento varia segundo os mecanismos psicobiológicos da mulher, seu estado emocional, a gestação ser desejada ou não. Num artigo da revista médica Neonatology do ano 2001, o neonatologista francês Jean-Pierre Relier explica que “os estresses psicológicos da mãe podem atuar sobre o desempenho dos fatores de crescimento responsáveis pela organização vascular da placenta. Este dado é relevante e aponta para a importância fundamental de um bom equilíbrio psico-afetivo no pai e na mãe – no consciente e no subconsciente dos dois – para o bom desenvolvimento da placenta e do embrião; este equilíbrio sendo atuante na prevenção de prematuridade, no atraso de crescimento intra-uterino, na hipertensão materna, eclampsia e no aborto espontâneo.” 

Na peça “Sonho De Uma Noite De Verão” William Shakespeare indica que detinha este conhecimento iniciático, pois o rei Oberon ordena que os elfos abençoem o palácio aonde os casais vão se recolher ao leito nupcial. Eis o seu discurso para Puck:

Enquanto a aurora se atrasa,
rondai todos esta casa,
que ao tálamo principal
vou lançar a bênção real.
Sua prole numerosa
será sempre venturosa.
Os três casais que aqui estão
em concórdia viverão;
seus filhos não serão presa
das manchas da Natureza.
Beiço de lebre, sinais
e outros defeitos que tais,
que deixam triste o aleijão,
seus filhos nunca terão.
Com orvalho consagrado
cada elfo cumpra o recado,
este palácio abençoando
e paz por tudo espalhando.
Jamais caia em abandono,
feliz seja sempre o dono.
Mãos à obra, agora,
sem mais demora!

Ide ver-me antes da aurora.

No judaísmo, é bem delineada a questão da importância do estado físico e psíquico dos pais durante a concepção; a presença de um sentimento de cuidado e de amor durante a relação é o caminho consciente para uma prole saudável, mais sábia e espiritualmente plena.

Nessa aurora do século XXI, o meio ambiente da gestante é considerado tão importante quanto seu aporte genético, e talvez até mais importante para a saúde física e mental do futuro adulto. De fato, desde a fase de pré-embrião, e durante toda a gestação, ocorrem no ventre materno milhares de trilhões de processos, graças ao trabalho de uma impressionante inteligência inata, insondável e de grande complexidade. Cada célula segue seus próprios caminhos de desenvolvimento. A saudável qualidade da dieta da mãe, seu metabolismo bem equilibrado, sua boa circulação sanguínea e seu bem estar psicológico contribuem para a integridade deste admirável crescimento. Uma das áreas mais atuantes da pesquisa científica tem sido a epigenética, novo campo da biologia celular que estuda os mecanismos moleculares por meio dos quais o meio ambiente controla a atividade genética da célula. Está sendo desvendada a maneira como o ambiente – principalmente a vida interior da pessoa, seu olhar sobre a vida – influencia o comportamento das células.  Cada vez mais detalhes sobre o sistema e estrutura da saúde e das doenças – incluindo as cerebrais – estão sendo descobertos. “Sabemos que os genes não controlam os seres vivos,” explica o biólogo celular Bruce Lipton em seu livro “A Biologia da Crença,” no qual relata suas descobertas científicas que comprovam o poder do pensamento e do subconsciente sobre a matéria. O cientista Gregg Braden comenta: “Bruce Lipton nos oferece o tão procurado elo perdido entre a vida e a consciência.” 
Pesquisas no campo da neuropsicoimunologia sugerem fortemente que um estado de “alegria crônica” durante a gestação transmite ao novo cérebro uma infraestrutura robusta e resiliente, pois já foi comprovado cientificamente que os pensamentos da gestante, seus estados de ânimo modelam o desenvolvimento do cérebro de seu neném. Rudolf Steiner também ensinou que o sentimento de alegria na gestante confere aos órgãos do bebê a capacidade de se formarem harmonicamente. Aludiu também à influência da moralidade da pessoa que está com a criança; e ampliando este prisma podemos entender quão imensamente plasmável é o ser em formação no ventre da mãe. Isto implica que uma atmosfera impregnada de alegria, gratidão e entrega serena às forças da Vida – cultivada desde antes da concepção – provê condições ideais, favoráveis ao neném.

A cada instante, o olhar da gestante sobre a vida é traduzido na composição de seu sangue; e a bioquímica veiculada neste sangue se torna parte integrante dos tecidos dos órgãos do novo corpo em formação – terra fértil, aberta a possibilidades infindas. A saúde fisiológica e a saúde psicológica estão intimamente entrelaçadas, uma apóia e reforça a expressão da outra. Da mesma maneira como ocorre para a saúde física, é durante o desenvolvimento intra-uterino que a personalidade do ser humano começa a se organizar. No âmbito da psicologia pré- e perinatal aprendemos que as circunstâncias em torno da concepção, da gestação, do trabalho de parto, do nascimento e da amamentação influenciam intrinsecamente o cérebro em crescimento fomentando – ou não – a correta formação de áreas e circuitos cerebrais, com mecanismos de auto-regulação indispensáveis à capacidade de viver paz, mansidão e plenitude, manifestando criatividade, flexibilidade mental e força de vontade, tal como a da Inteligência cósmica o concebeu em suas oficinas.

Em seu livro Beauty, The Invisible Embrace (Beleza, O Invisível Abraço) o poeta teólogo irlandês John O’Donohue descreveu a beleza do gestar em termos comoventes: 

Mulher Ventre do Ser 

Não há outro caminho de entrada no mundo que não seja pelo corpo da mulher. A mulher é o portal para o universo. Ela é também o ventre do Ser. Cada pessoa no mundo começou a vida como um traço minúsculo nas profundezas da mãe cujo ventre é o espaço onde esse traço se expande e se abre para assumir a forma humana. Em termos de futura identidade e destino de uma pessoa caminhando pelo mundo, este é o tempo de máxima formação e influência. No encontro humano, nada chega a ser mais próximo do que isso; nunca dois seres poderão estar mais perto como quando um está se formando nas profundezas do outro. Naturalmente a relação é imensamente desequilibrada: um é uma pessoa completa, o outro é minúsculo, apenas começando sua jornada rumo à identidade absorvendo vida da mãe. Porém, na noite do corpo materno, cada um está desesperadamente aberto ao outro. Homem nenhum chega mais perto de uma mulher. Mulher nenhuma chega mais perto de outra mulher. Esse intricado nutrir e desabrochar de identidade se dá debaixo da luz no subconsciente físico de seu corpo. A mãe não vê nada. A jornada é inteiramente às escuras. É a mais longa jornada humana do invisível ao visível. De cada via interna, o labirinto de seu corpo aporta um fluxo de vida para formar e liberar esse peregrino interno. Imagine os incríveis eventos que vão chegando para formar o embrião; de como cada partícula de crescimento equivale à formação de um mundo oriundo de fragmentos.

Paracelso, médico, filósofo, alquimista, químico, astrólogo suíço do século XVI, considera a gestante como uma artista: “A mulher é a artista da imaginação e a criança em seu ventre é a tela sobre a qual ela pinta suas telas.”  

Durante a gestação, a sensibilidade da mulher fica ampliada, assim como sua imaginação para juntas oferecerem ao ser que chega uma áurea matéria prima para seu corpo em formação. Sentimentos de bondade, amor, generosidade, pensamentos altruístas luminosos, construtivos e fraternos permeiam bioquimicamente o neném de saúde e ternura. O ser assim gestado não sofrerá a dicotomia, por exemplo, de alguém que faz uma dieta fantástica, mas fuma. Ou de um médico que cuida da saúde dos outros, mas bebe desmesuradamente. O cérebro de fraca estrutura leva a pessoa a buscar prazeres nocivos, mesmo quando é evidente pela consciência que isto não é nada saudável. 

Omraam se refere ao poder da gestante usando uma analogia com o fenômeno eletrofísico da galvanoplastia, abaixo esquematizado: 

  • O cérebro da mãe está ligado à pilha, à Fonte de energia cósmica, à vida, Deus, cuja corrente recebe, e esta corrente circula, em seguida, para o embrião 
  • A solução salina é o sangue da mãe que banha igualmente todos os órgãos do corpo e no qual estão mergulhados o anodo (cérebro) e o catodo (útero) 
  • O anodo (cabeça) fornece o metal (pensamentos) que será transportado pelo sangue até o feto

A criança é alimentada e formada pelos elementos que deste modo recebe da sua mãe.

Em seu romance “As Afinidades Eletivas,” Johann Wolfgang von Goethe exemplifica o fenômeno da influência da vida psíquica da mãe na formação do corpo de seu neném, contando a história de uma mulher que enquanto esperava um filho de seu marido, pensava incessantemente num outro homem que amava. A menina que nasceu tinha os olhos iguais aos deste homem. 

“É enorme o poder do pensamento e do sentimento numa mulher grávida. Por que então as gestantes não se decidem todas a fazer um trabalho benéfico sobre a criança que trazem dentro de si?” pergunta Omraam, pois segundo ele,

“As mulheres ainda não se dão conta suficientemente de seu poder no que diz respeito ao futuro da humanidade. Elas são mais fortes que todos os meios materiais constantemente sendo descobertos e postos a sua disposição! Sim, eis o que elas não sabem: o futuro da humanidade está em suas mãos. Durante os nove meses em que trazem no ventre o seu filho, elas têm o poder, pelo pensamento, pelo sentimento e com a ajuda do pai dessa criança, de criar um ser que mais tarde, aonde quer que vá, levará paz, harmonia e luz.”

Até há pouco tempo, a maioria dos estudiosos da fisiologia humana enfocaram minuciosamente o sistema adrenérgico – reações de luta ou fuga, estresse etc… Sabemos por exemplo que quando ficamos com medo ou com raiva, nossa pressão arterial sobe, o sistema digestivo interrompe seu trabalho, reagimos com maior rapidez e resistimos mais à dor. Nossa energia é usada na defesa contra a ameaça que estamos enfrentando, há um grande afluxo sanguíneo nos braços e nas pernas (ao detrimento do eixo central do corpo). Por sua vez, a neuroendocrinologista sueca Kerstin Uvnäs-Moberg, estudou a fundo o sistema hormonal diametralmente oposto ao sistema adrenérgico que é o ocitocínico. Este sistema nos permite ter calma, sentir prazer, nos relacionar bem uns com os outros, sarar e raciocinar mais luminosamente. Ele é ativado quando, por exemplo, sentimos confiança, curiosidade e amizade. O coração e a circulação sanguínea passam a trabalhar mais devagar e o sistema digestivo com maior rapidez e eficácia. Quando a paz e a calma prevalecem baixamos nossas defesas, nos tornamos mais sensíveis, abertos, e interessados nos que nos rodeiam. Esta poção bioquímica atua como um poderoso néctar de cura. A ocitocina orquestra este sistema de calma e conexão, ela é essencial para a gestante se sentir em comunhão com a vida, entregando-se à Sabedoria do universo que trabalha através dela. Sob a regência da ocitocina, ela acessa melhor seus recursos internos e sua criatividade. Este hormônio age como um neurotransmissor, atuando no cérebro através de uma grande rede de nervos, influenciando as funções vitais no corpo da mãe, contribuindo inclusive para a boa formação do cérebro do neném. A ocitocina também desempenha uma função primordial durante a amamentação, período fundamental para a consolidação da saúde da criança. 

Em sua epístola aos Hebreus, São Paulo menciona que Jesus era sacerdote da Ordem de Melkitsedek. Celebrado como rei da paz, da justiça e do amor, Melkitsedek é o Mestre de todos os mestres da Grande Fraternidade Branca Universal – composta pelos benfeitores da humanidade, gênios, filósofos e artistas, cientistas e religiosos ao serviço do Sublime. Seres altruístas que manifestaram um infindo respeito pela Vida. 

Mais uma vez, na Tradição iniciática impera a noção do valor capital da mansidão, da paz e do amor para comungar com a vida; qualidades essenciais para que possamos ser verdadeiras filhas e verdadeiros filhos de Deus.    

Em seu livro “O Milagre do Nascimento,” o teósofo e clarividente Geoffrey Hodson professa: “O poder da procriação é o atributo mais divino que o ser humano possui. No exercício deste poder ele atua microcosmicamente numa sagrada encenação do grande drama da criação do universo. Quando motivada por um amor puro e mútuo, nesta encenação as duas metades de Deus – representadas no homem e na mulher – se unem.” 

E pede:  

“Homenageiem as mulheres, considerem-nas como rainhas,
e para cada rainha que haja um homem rei,
que cada um honre o outro, reconhecendo sua realeza.
Que cada lar, mesmo o mais humilde, se torne uma corte,
cada filho um cavaleiro, cada criança um pajem.
Que todos entre si se tratem com nobreza,
honrando em cada um sua majestade, seu régio nascimento;
pois há sangue real em cada ser humano; todos são filhos do Rei.”

Ele observou a gestação de uma amiga e notou que a atuação dos seres espirituais que tecem os órgãos do neném é distinta conforme o humor da mulher. Esses seres trabalham mais rápido quando a mãe está serena e alegre, para tecer o máximo possível nessas condições auspiciosas. O trabalho então efetuado dissolve alguns carmas que o ser em formação viria a ter: problemas de saúde, etc. Estes mesmos seres trabalham o mais vagarosamente possível quando a mãe está nervosa: “[o anjo] trabalhava mantendo uma postura científica, e mesmo que sentisse grande alegria e considerasse a criança com carinho, sua atitude mental era a de alguém aplicando deliberadamente certas forças a fim de obter um resultado claramente definido. Quando o meio ambiente provia energia verdadeiramente espiritual, como por exemplo, durante uma missa ou alguma reunião espiritual, ele absorvia o máximo possível desta energia. Em seguida, tomava o corpo astral do neném em si mesmo [….] para que esta energia benéfica o envolvesse e o permeasse, aportando magnetismo e modificando qualquer tendência cármica adversa.”  

Hodson adverte que “Os novos corpos gerados por aqueles que costumam utilizar mal seu poder criativo não provêm templos adequados para o deus que está para encarnar neles. A atmosfera psíquica do lar – e da área onde ocorrem tais práticas – afeta não somente as crianças em crescimento, extremamente sensíveis a tais influências invisíveis, mas todos aqueles que entram em contato com essas emanações sujas.” Esta observação ajuda a entender a raiz de inúmeros problemas éticos e psicossociais que há séculos assombram a humanidade. A própria neuroendocrinologia revela que tanto o estresse crônico como a malnutrição alteram o crescimento do eixo embrionário e do feto no que diz respeito ao delicado processo de divisão e especialização celular…

O místico Edouard Schuré, amigo de Rudolf Steiner, descreve em sua magna obra “Os Grandes Iniciados” o quanto é importante para a humanidade a relação harmônica entre o homem e a mulher, o marido e a esposa. “Quando dois seres conseguem se penetrar completamente, em corpo, alma e espírito, formam uma síntese do universo,” explica ele, ao revelar que na Escola de Pitágoras a mulher recebia o título de sacerdotisa do lar, e entre os vários ensinamentos transmitia-se a elas a importância de desenvolver bondade e amor, agindo como agente transmissor de calma e fortitude intelectual, moral e espiritual ao seu marido. Para viverem plenamente as funções de mãe e de esposa, as mulheres passavam por uma iniciação especial, feminina (assim como nos tempos védicos, no Egito – na época dos mistérios de Ísis –, na Grécia organizada por Orfeu e em Roma nos templos das deusas Juno, Minerva, Diana e Ceres). “Esta iniciação consistia em ritos simbólicos, cerimônias, festas noturnas para ensinamento especial transmitido por sacerdotisas anciãs ou por um grande sacerdote, que tratavam de temas extremamente pessoais, como o contato íntimo dos casais. Davam-se conselhos e regras, diretrizes para as relações dos sexos, as épocas do ano e do mês favoráveis a concepções felizes”. 

Eleanor Madruga Luzes psiquiatra e analista junguiana prevê, em “Ciência do Início da Vida,” sua tese de doutorado em psicologia, que:

Uma grande mudança de repercussão social advirá, inexoravelmente, ao se deixar o referencial Darwiniano, no qual é mandatário sobreviver primeiro, além de que os mais fortes seriam os sobreviventes. Tal ideologia trouxe, nos últimos séculos, graves conseqüências bélicas e ambientais. A nova biologia revela a partir do que foi visto através do microscópio eletrônico, que a vida é comunicação, e se sustenta pela cooperação. Temos que enxergar mais além e aprender que nossa sobrevivência tem muito mais a ver com a capacidade de se relacionar, interagir, cooperar, aprender e amar.”

Educadora sobre a importância da vida prenatal e estudiosa da ciência iniciática, Laura Uplinger escreveu o seguinte texto em homenagem ao plano de Omraam de convencer os chefes de Estado da necessidade de consagrar lindos terrenos às grávidas:

Eu conheço um planeta
sobre o qual as nações vivem em paz,
onde a natureza é respeitada,
onde a ciência e a filosofia
nunca são usadas para escravizar,
limitar, ferir ou aterrorizar…
Lá, cada pessoa é concebida
e gestada conscientemente.

Neste mundo reina
um verdadeiro espírito de fraternidade,
e as grávidas são tratadas de maneira muito especial:
os meios artísticos e artesanais de cada comunidade,
estão à disposição delas.
As gestantes passeiam
por lindos parques floridos,
admirando árvores, estátuas e fontes…

De dia, o cantar dos pássaros as abraça.
De noite, as estrelas
as convidam para visitar mundos distantes…
Nestes parques há várias casas
onde as mães podem tomar parte em muitas atividades:
cantar, tecer, esculpir, bordar, desenhar…
Existem também teatros, bibliotecas e cinemas,
e é possível estudar, ensinar, meditar, rir e chorar.

Nas escolas deste planeta,
os adolescentes estudam a importância
da concepção, da gravidez, do parto e da amamentação
para uma humanidade feliz.
Os casais caminham para o momento da fecundação,
com suas mentes esclarecidas,
sabendo das dimensões fisiológicas,
psicológicas e espirituais de uma gestação,
podendo assim acolher serenamente o mistério da vida.

Tendo em vista tal vasto e luminoso embasamento filosófico e científico fica claro que este conhecimento pertence a todos – e não a uma pequena elite de pensadores e pesquisadores. A humanidade só dará um salto quântico em sua maturidade política, artística, econômica, social, psicológica e espiritual graças a uma ampliação de consciência. Segundo Omraam, a única esperança para a humanidade é viver o tempo da gestação bem e conscientemente esse tempo de poderoso “imprint,” formador de nosso veículo físico no planeta. Pois da saúde física e psíquica das gestantes depende a saúde física e psíquica da humanidade.

Tive a alegria de gestar – três vezes – abençoada por este preceito da ciência iniciática; e é de minha opinião que este conhecimento deve ser generosamente apresentado aos jovens nas escolas e universidades do mundo inteiro, pois precisam saber do magnífico poder, da incrível responsabilidade que a Vida outorga às mães e aos pais. Desconhecer este poder é meramente dar continuação às tragédias que saturam os jornais, os noticiários e as novelas. Abraçar conscientemente a procriação trará ao planeta gerações cada vez mais aptas a viver plenamente, a “herdar a terra.”

“O casamento, a maternidade e a paternidade são de natureza sacramental; a maternidade é sagrada e deveria ser reverenciada. Os filhos deveriam vir de uniões inspiradas pelo mais profundo, generoso amor e pelos ideais os mais elevados; somente então a promessa de uma humanidade mais nobre se cumprirá e, num futuro próximo, nascerão as crianças da nova raça.” 

Geoffrey Hodson

Era de manhã, bem de manhãzinha…

… uma mulher sorria, solene, na janela da cozinha, o olhar a vagar pelos telhados e pelas copas das árvores, enquanto as estrelas davam lugar a um novo dia. Suavemente, levou a mão quentinha ao ventre grávido.

Um cantar profundo,
corajoso e silencioso ecoava no seio dessa mulher.
Começara há tempos imemoriais,
percorrera eras e eventos infindáveis,
transmitidos por incontáveis desdobramentos
até aquele momento,
àquela nova vida que crescia
num calor gostoso no centro de seu corpo.
E ela ficava a sorrir,
saboreando com todo seu ser o pão de uma profunda comunhão
com cada ventre, com cada mãe que já havia existido.

O dia começava
a luz o anunciava
assim como um pássaro
e o neném

Mesmo antes de ser concebido, esse bebê morava no seu coração. Ela costumava olhar adiante e sabia que, quando engravidasse, daria a seu filho experiências de uma intimidade deliciosa, imagens extasiantes e aventuras em bibliotecas povoadas de lembranças.

E foi o que fez: durante a gestação, ela caminhou por entre as árvores, fez versos ao beijar maçãs, elevou-se às estrelas, seguiu o curso de riachos e, com a música, voou a terras de luz. Compartilhou-se com o seu neném, mostrando-se por inteiro, revelando sua curiosidade, suas idéias, seu maravilhamento e suas alegrias.

O neném cresceu, e hoje caminha pela vida digno, robusto, feliz, livre, bom e sábio. A mulher, agora avó, ainda gosta de acolher o amanhecer. E quando pensa na época da gestação, sorri o mesmo sorriso solene, relembrando as deliciosas idéias que teceu com o pequeno companheiro em seu ventre.

Bibliografia