O “De mãe para filha” é uma proposta de um Rito de Passagem para meninas, visando empoderá-las para seguirem pela adolescência honrando o que traz em seu coração, e se conectando com sua intuição que será cada vez mais importante nesta nova etapa de vida.
Trabalhamos dentro da relação mãe-filha – sem dúvida para a maioria das meninas, o laço mais forte que possuem, eixo pelo qual passa toda a sua relação com a ancestralidade do feminino -fortalecendo-o.
Reforçamos este laço quando a mãe entrega, ritualmente, algo para a filha, para que esta se aproprie um pouco mais de seu próprio feminino. Esta entrega é feita sob a forma de uma benção, que é a própria intuição feminina.
A intuição precisa se tornar cada vez mais presente para que a menina possa fazer escolhas mais acertadas principalmente no que diz respeito à própria sexualidade. (Não é desconhecimento de ninguém o quanto a gravidez adolescente já se tornou um problema social, mesmo nas camadas de maior poder aquisitivo e a educação pré-natal tem como resultado positivo a nível mundial a redução deste índice.)
Primeira Etapa: Preparando as Mães
O projeto “de mãe para filha“ se compõe de duas etapas: a primeira com as mães, onde explicamos para elas a importância deste momento tão belo e trazemos, para ilustrar isso, um conto de fadas. Neste conto, a mãe, em seu leito de morte, abençoa a filha e dá para ela um presente que irá guiá-la por difíceis caminhos que ela terá que trilhar a partir daí (intuição). Trazemos também a explicação da importância do sangue menstrual, que este pode e deve ser consagrado aos seres de luz, pois todo fluido corporal nosso que não é consagrado fica à disposição dos mais variados tipos de entidades astrais; já a luz só se serve ao ser convidada, portanto trazer à consciência a importância deste convite. A não consagração deste sangue, e sua consequente utilização por seres indesejáveis, deixa a mulher com forte sensação de cansaço. Por essa razão, Moisés mandava que isolassem a mulher menstruada por estar “impura”, mas a impureza não vinha dela, e sim desses seres de baixa consciência que a acompanhavam durante o período menstrual. A consciência desse convite aos seres de luz, e da consagração deste sangue, que sai junto com o óvulo não concebido, já vai ficar marcada para ser bem utilizada quando da gestação, fase na qual a impregnação que se dá através da imaginação ajuda a fortalecer e selecionar os melhores gens da cadeia genética do bebê.
O sangue da menarca, a primeira menstruação, é muito importante e pode ser também recolhido e derramado no jardim da casa, servindo já como uma delimitação de território psíquico (e físico) para esta nova mulher que está nascendo. Podemos sugerir presentes que a mãe possa dar para a filha para aumentar a ligação com o sangue, veículo da alma. Uma sugestão é o copinho coletor, ou o antigo paninho, que ganhou cara nova, como o Abiosorvente (absorvente feito de flanela de algodão, sem química, fácil de lavar se seguirmos as instruções). Este depois pode se tornar um ritual mensal na vida da mulher adulta. Há uma lenda que diz que quando as mulheres pararam de menstruar na terra, as guerras se acirraram, pois a terra precisa de sangue para se fertilizar. Que seja então, o sangue menstrual, que irá ser derramado de uma forma ou de outra – quer dizer, se a sociedade deixar, haja visto os métodos contraceptivos que bloqueiam a menstruação, chamando-a de “sangria inútil” ignorando não só a importância dos ciclos, quanto a poderosa LIMPEZA das toxinas físicas e psíquicas, que é feita com o derramamento do sangue menstrual. Só que não há apenas o sangue, para que este chegue, houve antes uma ovulação (o “fio branco”, mais imperceptível, em contraponto ao “fio vermelho” da menstruação). Ambos nos ligam à Terra. Aqui podemos já trazer a sugestão de associar a ovulação a algum projeto criativo, algo que se queira fertilizar, acostumando assim a jovem a ter percepção do próprio corpo (de quando está ovulando), como também a conceber algo com consciência. Quando ela for conceber umacriança, muito mais fácil que esta venha dentro de uma escolha da alma e não como um acidente…
A mãe pode também confeccionar para a filha um calendário de luas. Para isso ela própria pode se conectar com a lua, passar a observá-la, reconectando-se com a própria ancestralidade, para poder trazer este saber “mensual” para a filha. A maioria das tribos nativas utiliza rituais de lua cheia para curar problemas ginecológicos e distúrbios da fertilidade em suas mulheres. Com esse calendário, perceber que se a mulher ovula na lua cheia, vai menstruar na lua nova, e assim por diante. Parece óbvio, mas muitas mulheres não receberam nenhuma instrução sobre o assunto.
Junto com a troca de ideias, neste encontro preparatório as mães começam a confeccionar a boneca que será doada para a filha, trazendo nesta costura, suas melhores intenções e bênçãos.
Segunda Etapa: Encontro de mães e filhas
Este mesmo conto é trazido na segunda etapa, que terá a participação de mães e filhas. Neste dia aproveitamos para trabalhar com artes, sendo que muito pouco ou quase nada do significado oculto no conto ou nos trabalhos de artes é passado para as meninas. Este conhecimento está presente, sim, na consciência das mulheres adultas que estão passando sua benção para as meninas.
É importante frisar que não faremos alusão direta à menstruação nesta fase (11-12 anos), pois muitas ainda não tiveram a menarca e um ritual, só para meninas, que distinguisse as que menstruaram das que ainda não, poderia acelerar as que ainda não chegaram nesta etapa.
É importante que todas recebam a benção das mães, pois nesta idade elas começam a se sentir como que “perdendo” algo da infância, que vai ficando cada vez mais para trás. Precisamos colocar algo neste lugar, algo de valor, algo que as acompanhe daqui para frente, honrando as mulheres que elas um dia serão. É esta lacuna que o encontro “De mãe para filha” visa preencher. É uma manhã inteira para as mães se ocuparem das filhas, de darem a elas seu melhor, para que depois não se queixem, como no artigo de Affonso Romano de Sant´Anna, “Antes que eles cresçam”, que versa sobre o fato das crianças crescerem rápido demais quando nem ao menos pudemos perceber suas mudanças. Este encontro é uma pausa no corre-corre do dia-a-dia para olharmos para nossas crias e perceberemos como elas já cresceram, mas como ainda precisam de um adulto por perto, presente e de olho nas transformações que se passam com elas, com entendimento do “algo maior” por trás das transformações físicas.
Mais tarde, quando menstruarem, pode-se fazer um ritual mais específico. Os povos antigos têm muitas sugestões, mas podemos criar os nossos próprios ou mesmo compartir com elas uma celebração silenciosa.
No livro “Celebrações”, de Tereza Hallidday, ela sugere o traçado de três círculos no chão, num espaço com todas as anciãs, mulheres e meninas “da tribo”. Em um círculo ficam as que ainda não menstruaram, em outro, as que estão em idade de procriação e um terceiro para as que já passaram pela menopausa, as sábias da tribo. Este ritual dá uma dimensão do ciclo que é a vida e como tudo fica bem quando cada uma ocupa seu espaço. No decorrer do rito, as meninas que menstruaram naquele mês passam para o círculo seguinte e as que entraram menopausa também trocam de círculo. Os rituais nos ajudam a passar melhor pelas fases da vida, sejam elas quais forem, e a digerir o acontecimento no seu tempo, para que não fiquem pendências posteriores, o que sempre atrapalha a possibilidade de viver o presente que é a vida.